@acaciavelata.
Em 2021 comecei a editar vídeos e criei a Série @acaciavelata.
Cubro-me para me contrapor à hiperexposição e banalização do corpo no contemporâneo. Ficam expostos somente mãos e pés.
Nas filmagens deixo que os movimentos surjam espontaneamente como padrões a partir dos registros do corpo. Não penso; somente me movimento.
Minha maior influência são os filmes mudos do expressionismo alemão da década de 20, principalmente os filmes de Murnau.
Armazenamos tudo que entramos em contato. Os arquivos são inscritos no corpo como num disco rígido e cada tecido e órgão, como pastas, armazenam memórias.
Tenho interesse pela comunicação pré-verbal, do sentir antes do compreender, e sem palavras busco a comunicação direta e universal do corpo.
A escolha dos elementos visuais do espaço digital, variam de acordo com os padrões dos movimentos e a música reforça estes padrões.
O contemporâneo é pautado pela aceleração da informação que dificulta o aprofundamento do conhecimento. Mas o corpo arquiva tudo, e se olhado com atenção revela histórias.
*Música e sons de @adeleblanchin
A Série Recortes propõe investigações sobre deslizamentos, torções e sobreposições criando volumes e lugares, que à percepção impõeem novos percursos e tempos de fruição..
Desde o início de 2024, a artista vem produzindo trabalhos realizados por pressão e raspagem, onde o branco é inerente à técnica e ao tipo de papel utilizado. As densidades e sutilezas se relacionam, e são influenciadas pela transparência e leveza do papel. O branco nesta técnica não é pigmento. É secundário à raspagem do papel impondo uma tenção. Ao ser recortado modifica-se espontaneamente, e adquire uma nova posição no espaço.
Anne Coquelin no seu livro “A invenção da paisagem”, diz:" Só vemos o que já foi visto e o vemos como deve ser visto". Assim, a natureza representada no desenho ou na pintura, preenche uma condição retórica que garante o transporte do artificial para o natural tornando a percepção um hábito. Acredita-se estar usando os sentidos, e o que se vê é uma construção mental.
Na Série Recortes o olhar não busca o ponto de fuga. O olhar vai no sentido oposto. Ele passeia pelos volumes a partir dos desenhos recortados e projetados fora do plano pictórico. As sombras, que na perspectiva são pintadas para gerar ilusão, aqui são reais, são consequência dos desenhos que tornam-se anteparos à luz.
Cria-se assim uma nova narrativa, que não pretende ser natural, e como artificial impõe um olhar exterior ao plano. Como diz também Coquelin nomeia-se um novo lugar, um nova retórica como metáfora.
As árvores com seus troncos, galhos e raízes libertos da folha bidimensional adquirem novos volumes e formas orgânicas. Assim o olhar percorre caminhos com movimentos e tempos inerentes a cada observador.
O Barroco se reinventa há centenas de anos em novos conceitos e interpretações, de acordo com diferentes contextos sociais e culturais, como redobras da matéria e dobras da alma segundo Gilles Deleuze.
No contemporâneo constitui-se por excessos, extravagâncias, e exposição do que antes era velado e cuidado. O corpo e a pele exposta, como commodities, perdem a potência plástica pelo excesso de repetição e reprodução.
Nos trabalhos Dobras, resgato e reexamino o encontro do Barroco com o contemporâneo, em releituras de trabalhos do escultor Barroco Bernini (1598-1680), que genialmente representou o contato entre peles, e tecidos em movimentos exacerbados em fluxo.
Retiro os personagens e refaço os planejamentos. O mármore com seu peso é substituído por material leve. São trabalhos feitos com pergaminho, em que subverto a relação do que recobre e do que é velado. A pele passa a ser a cobertura de um nada.
Mantenho os títulos das obras originais, e as roupas ou drapeados tem nomes próprios.
Retiro o observador da sua atitude passiva.
As esculturas chamam a atenção para uma ausência induzindo a questionamentos. Tornam-se potência a partir do estímulo da imaginação, tão escassa na contemporaneidade.
A curiosidade do espectador re-subjetiva o corpo, tornando sua fruição ativa.
O Barroco é definido pela dobra que vai ao infinito; o tecido, vestimenta que libera sua subordinação ao corpo. Dobras que já não se explicam pelo corpo e tem sua própria autonomia. Um drapeado sob forma de fluxo, uma potência, como alegoria que desvela um tempo indeterminado pela combinação do eterno e do instante.
Barrocos são trabalhos em que evidencio um corpo exposto, em que o que interessa não é a imagem/corpo, porque no contemporâneo ela está destituída de importância plástica, pelo excesso de reprodução e exposição. A pele e carne expostas, despojadas das suas vestes, despojadas da sua proteção perderam seu valor. O que interessa é o que devém destas imagens, do que dela se subtrai e acrescenta.
Estamos num momento de explosão de um barroco que mostra e re-mostra, aquilo que antes era velado e cuidado. É o barroco de uma falta de pudor pela dor do outro. É um Barroco às avessas. São as “dobras” levadas ao infinito pelas redes sociais, do sangue e da tragédia não mais encobertos.
O Barroco não se encontra mais nos drapeados que recobriam os corpos. O corpo está nu. A pele está exposta e dessacralizada.
É a dilaceração deste corpo que passa a ser de interesse; é o que dele se subtrai, o que dele se produz, o que dele é consequência e o que dele se transforma. Os horrores e o sofrimento não são mais encobertos, são midiatizados. Viram objetos de exposição, objetos para atrair a atenção. É a estética da mídia que viraliza e espetaculariza a dor.
Pela repetição até a náusea, tornamo-nos imunes à dor do outro, e vivemos uma perversidade implícita que nem mais percebemos. É o desdobramento desta dor, é o Barroco desta dor que eu quero mostrar.
O instante do movimento que outrora se buscava na escultura, a fluidez, o corpo belo, estético e harmonioso não interessam mais. O corpo está duro, a pele dura, a pele exposta, a pele crua; rígida.
O que entranha no nosso olhar a cada dia é o fluxo e o desdobramento da dor, do sangue, do horror. É isto que eu quero chamar a atenção e re-subjetivar.
Ao extruir o vermelho e expulsá-lo do corpo sob a forma de alegoria, de um Barroco, restituo a potência ao que hoje tornou-se vulgar.
Quando mostro meu trabalho, a 1ª pergunta que é feita é: Isto é sangue?
Foto-pinturas em alto relevo.
Técnica mista - Impressão fotográfica em tecido, brim de algodão, manta acrílica, tinta acrílica, costurados em tela sobre chassi.











































